segunda-feira, 16 de fevereiro de 2015

Carnaval, Entrudo e Arruda


Nos dias de hoje não há projecto que subsista sem uma vertente comercial e são incontáveis os esforços para associar os mais diversos produtos às diferentes datas comemorativas que o calendário nos vai marcando. Nós não fugimos muito à regra e se o Dia dos namorados era um excelente argumento para os enamorados oferecerem sementes de murta (ou outra!porque não) o Carnaval é também uma óptima desculpa para falarmos e promovermos outras espécies. E este ano, voltamos a uma da nossas plantas preferidas: a arruda.

A associação é um pouco-forçada, reconhecemos, mas tem uma razão de ser. A arruda, à semelhança do Carnaval,  tem reconhecida carga simbólica  e é uma planta mistica para muitos,   indispensável para afastar o mau-ollhado ou a inveja, sendo por outros ainda conhecida com a erva-das-bruxas.

É bem provável que nos actuais festejos de Carnaval se cruzem reminiscências de diversas tradições com significados e antiguidades diferentes. Desde as festas em honra de Dionisio na Grécia, a Baco na Roma Antiga passando pelos rituais de fertilidade das primeiras comunidades agrárias, o mais provável é todas elas terem contribuido para a actual configuração dass festas de "Adeus à Carne" (carnem levarem), que hoje comemoramos pelo segundo dia.

O enfoque de que mais gostamos é possivelmente o que os mascarados de Lazarim (Lamego) e os caretos de Podence (Bragança) mantêm ainda hoje vivo e que, não há muitos anos marcava o Entrudo na grande parte das nossas comunidades rurais, longe dos actuais desfiles e corsos inspirados nas tradições originadas em Paris no século XIX e que têm hoje no Brasil um expoente. 

Eram os rituais de celebração do fim do Inverno, da preparação da Primavera e das novas colheitas, em que aos jovens mascarados de figuras  diabólicas todos os excessos e tropelias eram permitidas, porque o início de um novo ciclo de fecundidade se aproximava e era preciso afastar o que de velho ainda subsistia.

Essas festas agrárias foram entretanto confinadas pela Igreja aos três dias anteriores ao início da quaresma, a qual se inicia sempre na quarta-feira de cinzas, 47 dias antes do Dia de Páscoa. Como o Dia de Páscoa é uma celebração móvel (determinada todos os anos  pela mesma regra: primeiro Domingo após a primeira lua-cheia que se observar depois do equinócio de Primavera, o qual no hemisfério Norte ocorre a 21 de Março. Este ano a Páscoa será pois a 5 de Abril), temos que também os três dias de Carnaval são móveis. 


E há que aproveitar, pois o Entrudo (entroito, em latim, entrada), são os três dias reservados aos excessos que podem anteceder a entrada nos 40 dias da quaresma  - Um período em que todos os crentes são convidados à frugalidade e reflexão, condição essencial para celebrar condignamente o sofrimento de Cristo que se relembra na Semana-Santa.

Mas a época que agora se inicia tem ainda mais relações com as plantas que nos rodeiam. Quarta-feira de cinzas, dia18 de Fevereiro, assinala como diziamos o início da Quaresma. E é por ser de cinzas que em muitas localidades de Portugal é ainda tradição queimar os ramos utilizados no dia de Ramos do ano anterior (de oliveira, rosmaninho, alecrim, etc). E com as cinzas, humedecidas com àgua benta, o celebrante marca nos fiéis o sinal da cruz relembrando o quão efémeros somos: "lembra-te que és pó e ao pó voltarás".

2 comentários:

  1. Por falar em Lazarim, acabei de vir de lá.
    Considero-me um privilegiado...
    Cumprimentos.

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  2. E é mesmo Rafael! Os dois que lá fui ficaram-me na memoria! Mas mesmo assim fico com inveja! Um abraço

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