terça-feira, 8 de setembro de 2015

Flores no fim do Verão

cardo-do-visco -  Atractylis gummifera

A propósito de uma visita a Sagres e ao cabo de S. Vicente, escrevemos hoje sobre duas plantas que, aparentemente sem razões plausíveis, têm o estranho hábito de florir por esta altura. Não que sejam especialmente raras, que não são, pois encontram-se disseminadas um pouco por todo o território centro e sul de Portugal, mas foi ali, na Costa Vicentina, que acabámos de as ver. Sinal pois de que é o momento certo para partilhar o que já há algum tempo andávamos para escrever.

Apesar de relativamente vulgares a verdade é que a maioria de nós nem dá por elas. Por distracção, porque apesar de tudo são facilmente notadas. Quer o cardo-do-visco (Atractylis gummifera) quer a cebola-albarrã (Urginea maritima) são plantas cuja flores, de inegável beleza, têm o mau feitio de se fazerem em contra-ciclo. Quando quase tudo o resto passou a maior parte dos últimos três meses a amadurecer sementes e, se possivel a tentar chegar vivo a um novo ciclo, estas estiveram recolhidas no solo, escondendo todos os sinais de vida da superfice. Para elas, o momento certo para se revelarem é mesmo nos últimos minutos do filme.

Perante tal incompreensibilidade há mesmo quem chegue a desconfiar da atitude, enventualmente um pouco trocista, face á miséria generalizada em seu redor. Dcidir florir nesta altura ...quase que parece de novo-rico.... Há tambem quem lhes anteveja o papel melancólico, próximo do das populares sul-africanas acucenas. de terem a seu cargo a  tarefa odiosa de anunciarem aos humanos a enorme desgraça que é o fim do Verão e o consequente início da descida ao Inverno. 

Para nós porém, que não somos antropocentricos, a  missão destas florações a destempo são tão só e apenas uma. São o alento para que as inumeras espécies vizinhas, que penam há meses à chapa do sol, não desistam. Incitam-nas a não desesperarem e que dêm tudo por tudo nesta recta final da maratona. Mais alguns dias apenas e chegarão com vida ás primeiras chuvas que aí vêm. São, se quisermos, na popular linguagem de gestão, flores motivacionais e, como tal,  fundamentais para um jardim que se quer a trabalhar em equipa,

Estas evidências tornam pois a sua presença ainda mais incontornável e pertinente num jardim. Tê-las é ter a segurança de um marcador preciso e infalível  que nos avisa, subtil e sem uso de alarmes ruidosos , que vem aí um novo tempo. O tempo de recomeçar. 

Ou, dito de outra forma, que se arrume o que eventualmente se colheu, e que se preparem as sementes do que se quer ver florir na Primavera de 2016. Todos os elementos, o Sol, as chuvas, os planetas estão todos a dar os passos necessários para a sincronização geral apurada ao longo de milhões de anos.

Não há dúvidas. Nesta latitude, tudo se compõe para começar em breve um novo ciclo!

cebola-albarrã - Urginea maritima

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