sábado, 9 de janeiro de 2016

Simplesmente Alecrim


Depois de uma planta perfeita uma outra que não lhe fica atrás. Isto, se não lhe ficar mesmo à frente! Nesta ideia de aproveitar estas primeiras semanas de Inverno para colocarmos as atenções nas nossas espécies mais emblemáticas, só agora nos damos conta de que ao longo destes dois anos ainda não tínhamos feito qualquer referência ao... Alecrim!

E se há planta que tem de fazer parte de qualquer selecção, o alecrim é com certeza uma delas! Na verdade o alecrim é uma espécie que dispensa grandes apresentações, mas aproveitamos a oportunidade para corrigir a nossa a falha e partilharmos, sobretudo com aqueles que pela primeira vez se interessam pela nossa flora, algumas informações que sustentam generosamente porque é que se deve ter sempre um alecrim à mão.

Nativa de toda a bacia do Mediterrâneo esta espécie arbustiva extremamente aromática há muito que foi apropriada pelos nossos antepassados que sobre ela construíram um extenso património de usos e tradições. Os gregos consagravam-na a Afrodite e os romanos chamavam-na, pelo seu aroma intenso, de "orvalho do mar". Curiosamente é essa a razão que explica que o nome cientifico que lhe foi dado há pouco mais de 200 anos seja o de Rosmarinus officinalis, uma vez que em latim Ros+marinus tem precisamente esse significado: orvalho do mar! O que, sendo um nome perfeito, é com frequência gerador de confusão, pois o nome rosmaninho é atribuído popularmente a uma outra planta igualmente emblemática da nossa flora: Lavandula stoechas, e sobre a qual já escrevemos aqui. Mas, uma vez sabendo isto, não há que enganar e basta ter presente que o alecrim é "aquela cujo nome cientifico" é muito parecido com rosmaninho!

Em Portugal ocorre espontaneamente sobretudo no Sul e Centro, tendo uma preferência por solos calcários. Mas atenção, adapta-se sem grandes exigências a outros solos e hoje encontra-se por todo o país seja em jardins, bordaduras ou hortas. Muito pouco exigente de cuidados e de regas o alecrim é uma planta melífera, das preferidas pelas abelhas, e oferece com frequência duas florações no ano. Uma abundante pelo Inverno, o que é de considerar, e outra pelo início do Outono se as condições metereológicas o entusiasmarem.

Embora as sementes de que dispomos sejam provenientes de populações silvestres dos maciços calcários da Estremadura, e sejam portanto do alecrim que nós preferimos, temos de referenciar que existem hoje inúmeros variedades cultivares apuradas por jardineiros de toda a Europa ao longo de séculos. Variedades cujas flores vão do purpura intenso ao branco passando por vários tons de rosa. Existem igualmente variedades que se distinguem pelo hábito dos seus ramos: mais erectos ou mais rebeldes até ao alecrim-prostrado, de porte rasteiro, uma variedade igualmente muito popular em jardinagem.

Dito isto, terminamos com o sem-número de aplicações que esta planta tem  e que resultam dos componentes químicos dos seus óleos essenciais. Na cozinha, as suas folhas secas aromatizam um sem número de pratos, sobretudo de carne. Em casa, ramos de alecrim, frescos ou secos, ou em defumações, ajudam a perfumar o ar podendo ser considerado um eficaz desinfectante.

Referência por fim às (algumas) aplicações medicinais. Tradicionalmente as infusões de alecrim são tidas como estimulantes, servindo para acudir a sintomas de fadiga. Banhos de imersão que as incluam são igualmente relaxantes e reparadores. Um outro benefício que desde há muito lhe é atribuído é o de ser um poderoso estimulante da memória. Como refere a Fernanda Botelho no seu recente livro "Uma mão cheia de Plantas que curam", (aqui), os estudantes gregos "entrelaçavam rebentos de alecrim antes dos exames para reforçarem as suas capacidades mentais". Curiosamente esta aplicação, que desde sempre lhe foi dada,tem hoje papel passado e carimbado pelas recentes descobertas cientificas que comprovaram que o Alecrim possui de facto poderosos anti-oxidantes e combate preventivamente os sintomas de doenças degenerativas como a de alzheimer.

Nota final - A foto aqui publicada, e que é a que acompanha os nossos pacotes de sementes de alecrim, foi-nos gentilmente cedida pelo Paulo e a Maria, do blogue Dias com Árvores, que nele a publicaram pela primeira vez aqui em 2008. Obrigado!

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