segunda-feira, 25 de janeiro de 2016

Sonhar com Estevas


Como partilhava há uns dias um amigo nosso, a jardinagem não começa na Primavera com o fim marcado no Outono...quem pensa assim perde a melhor parte! É que é em Janeiro que a jardinagem realmente começa....Com o sonho!

Com o sonho ou a saudade dos campos primaveris e das arribas das férias de Verão. Em qualquer dos casos é nestes dias de chuva  de Janeiro que faz todo o sentido começar a sonhar com as cores com queremos rodear-nos. Daí que entre as nossas sugestões não pudesse faltar esta: a Esteva. Como as duas sugestões anteriores, é uma cistácia e tem um claro potencial ornamental, mas o seu valor não se esgota aí.

Abundante no Alentejo, centro mais interior e Trás-os-montes, é impossível não ficar inebriado pelo seu perfume adocicado ou pelas suas enormes e vistosas flores. Na realidade este cheiro, que marca as memorias olfactivas de muitos dos nossos passeios de Abril e Maio, é produzido pela resina que cobre as suas folhas, o ládano, cuja óleo essencial é hoje muito utilizado na perfumaria como fixador de outras fragrâncias.

Repondo em memória o que escrevemos AQUI, há cerca de dois anos, as estevas são ainda um óptimo chamariz para abelhas e outros insectos polinizadores. O que é mesmo que dizer que são um excelente motivo para pássaros e outros pequenos seres-vivos procurarem um jardim. E se a isto juntarmos que as suas estéticas pétalas são comestíveis e que se trata de um arbusto que não requer qualquer tipo de cuidados ou manutenção, o que fica cada vez mais difícil de perceber é porque é que as estevas não são ainda uma vulgar planta de jardim do nosso país!

quinta-feira, 21 de janeiro de 2016

Sargaça


Retomando o exercício de passar em revista as espécies mais emblemáticas da nossa flora, regressamos hoje com mais uma das nossas cistácias preferidas: A sargaça, ou Halimium halimifolium, sobre a qual já tínhamos escrito AQUI

Em boa verdade quase que nos atrevemos a dizer que não há cistácias que não valha a pena ter por perto. E, dos vários géneros e espécies que estão contidos nesta família, poucas há que não tenham um claro potencial ornamental. São espécies pouco exigentes, ideais para jardins de baixa manutenção e que na Primavera oferecem generosas florações das mais variadas cores. Flores que têm uma duração limitada mas diariamente renovadas durante um período significativo que vai de Abril a Junho.

O "problema" é que a Natureza disseminou tanto e tão bem estas espécies pelo nosso território que nunca nos habituámos a dar-lhe o devido valor. É um facto que também não somos (ainda) um povo de jardineiros, mas este arbusto merecia que já lhe tivesse sido dado um nome mais elegante. O inglês "yellow sun rose" assenta-lhe bem melhor e revela que outros usos mais nobres lhe podem ser dados.

A sargaça ocorre em boa parte da nossa linha de costa, em solos arenosos, frequentemente na orla de pinhais e em matos baixos. Além das suas flores, com ou sem maculas, destaca-se pela folhagem cinzenta, quase branca, que contrasta bem com outros arbustos. É por isso uma excelente opção a ter em conta nos jardins e espaços públicos de muitas cidades e vilas à beira-mar. 

Mas não se julgue que o solo arenoso é um requisito essencial. Pela nossa experiência, desde que não seja colocada sobre solos pesados ou  argilosos, é uma espécie que se adapta bem a outras situações contribuindo para um jardim ainda mais colorido.

segunda-feira, 18 de janeiro de 2016

As sementes de Portugal nas Escolas do FUTURO


Janeiro não é só um bom mês para passar em revista alguma das espécies mais emblemáticas da nossa flora. É também um bom mês para planear o que queremos fazer no futuro e nessa perspectiva não haverá muitas mais notícias que nos dê tanta satisfação partilhar: As Sementes de Portugal são parceiras do FUTURO: O projecto das 100.000 árvores.

Para nós é muito mais do que um simples patrocínio ou de uma acção de responsabilidade social que está ao alcance da nossa empresa. É a possibilidade de nos associarmos a um projecto reconhecido nacional e internacionalmente pela seu trabalho na recuperação dos bosques autóctones da região metropolitana do Porto. Um projecto que prova que quem tenta consegue muita coisa!

Liderado pelo Centro Regional de Excelência da Universidade Católica do Porto / Área Metropolitana do Porto, O FUTURO não tem só dinamizado muitas e frequentes acções de reflorestação de árvores nativas em colaboração com as autarquias locais. Há muito que compreendeu que também nesta vertente a responsabilidade de assegurar o Futuro passava pelas escolas e pelo trabalho dos professores junto das crianças. São 33 as escolas que fazem parte da rede do Futuro, muitas dezenas de professores e seguramente largas centenas de alunos que durante as próximas semanas e em diversas actividades irão experimentar germinar sementes. E alguns dos alunos irão fazê-lo pela primeira vez!

Por esse privilégio que é do poder contribuir para que alunos de 33 escolas se atrevam a germinar sementes neste Inverno de 2016: O NOSSO OBRIGADO!


sexta-feira, 15 de janeiro de 2016

Roselha-grande


Depois de revisitarmos três espécies notáveis que tanto cabem no jardim, na varanda ou na horta, colocamos hoje a nossa atenção numa espécie cujo interesse é essencialmente ornamental e paisagístico. Pode parecer pouco, mas não o é. Nem todas as plantas têm de ter subjacente uma vocação medicinal, alimentar ou condimentar. Há espécies a que basta serem o que são: simplesmente bonitas!

A roselha-grande é uma dessas plantas. De resto, como todas as outras cistácias, de que falámos aqui pela primeira, faz agora dois anos, o Cistus albidus é uma espécie cujas qualidades são tais que só nos espantamos por não ser ainda  amplamente utilizada nos nossos espaços verdes, públicos e privados.

E dizemos ainda porque a realidade é que já o começa a ser em novos projectos que se querem mais ecológicos, sustentáveis e promotores da biodiversidade. A roselha-grande quase não requer rega, é um manancial de pólen e néctar para os insectos polinizadores e possui uma folhagem aveludada verde-cinza que contrasta bem junto de plantas e arbustos de outros verdes. Porém, a sua característica mais apelativa talvez seja mesmo a generosa floração que apresenta de Maio a Junho: Enormes e delicadas flores de 5 pétalas cor-de-rosa que se renovam quase diariamente.

Para quem nos intervalos destes dias frios e chuvosos de Inverno, já começa a antecipar o que poderá fazer para dar um novo ar ao seu jardim esta é uma boa sugestão: As suas sementes são de fácil germinação e numa a duas semanas será possível começar a ver crescer uma longa bordadura ou sebe de roselhas!

quarta-feira, 13 de janeiro de 2016

Cardo-leiteiro II


Quem nos segue há mais algum tempo sabe da nossa predilecção por cardos e, na hora de escolhermos uma 3ª espécie que possa fazer parte de qualquer horta ou jardim, voltamos ao Cardo-leiteiro.

A extensa lista de espécies de que dispomos na nossa flora silvestre permitia-nos continuar a publicar posts sem nunca as repetir. Mas isso tem vários "senãos": Ignora o Esquecimento, essa faculdade tantas vezes útil mas tem os seus defeitos, e deixa de fora aqueles que só mais recentemente entram em contacto com o nosso projecto.

Razões pois mais do que suficientes para repormos em memória o que AQUI escrevemos há mais de dois anos e que continua perfeitamente válido. A espécie Cynara cardunculus é uma daquelas plantas emblemáticas que à parte os picos das inflorescências, só tem qualidades!

Além da óbvia utilização que justifica o seu nome popular, no processo de fabrico de queijos, é uma planta cujos tons verde-cinza das folhas lhe confere evidente potencial ornamental durante o Inverno e a Primavera. Acresce a isto que é uma planta cujas inflorescências são muito apreciadas  pelos insectos polinizadores e não só: na agricultura biológica é, por exemplo, utilizada para atrair joaninhas as quais são um poderoso aliado no combate de algumas pragas. Tê-la num canto da horta ou do jardim é pois uma boa decisão.

E, como nunca é demais referir, é uma espécie resistente, perfeitamente adequada ao nosso clima e que não exige regas ou especiais cuidados. Depois da sua ´floração nos meses de Maio a Junho seca e quase desaparece. Mas nada que justifique preocupação, pois é uma planta vivaz cujas raízes voltam a rebentar com as primeiras chuvas do Outono.

sábado, 9 de janeiro de 2016

Simplesmente Alecrim


Depois de uma planta perfeita uma outra que não lhe fica atrás. Isto, se não lhe ficar mesmo à frente! Nesta ideia de aproveitar estas primeiras semanas de Inverno para colocarmos as atenções nas nossas espécies mais emblemáticas, só agora nos damos conta de que ao longo destes dois anos ainda não tínhamos feito qualquer referência ao... Alecrim!

E se há planta que tem de fazer parte de qualquer selecção, o alecrim é com certeza uma delas! Na verdade o alecrim é uma espécie que dispensa grandes apresentações, mas aproveitamos a oportunidade para corrigir a nossa a falha e partilharmos, sobretudo com aqueles que pela primeira vez se interessam pela nossa flora, algumas informações que sustentam generosamente porque é que se deve ter sempre um alecrim à mão.

Nativa de toda a bacia do Mediterrâneo esta espécie arbustiva extremamente aromática há muito que foi apropriada pelos nossos antepassados que sobre ela construíram um extenso património de usos e tradições. Os gregos consagravam-na a Afrodite e os romanos chamavam-na, pelo seu aroma intenso, de "orvalho do mar". Curiosamente é essa a razão que explica que o nome cientifico que lhe foi dado há pouco mais de 200 anos seja o de Rosmarinus officinalis, uma vez que em latim Ros+marinus tem precisamente esse significado: orvalho do mar! O que, sendo um nome perfeito, é com frequência gerador de confusão, pois o nome rosmaninho é atribuído popularmente a uma outra planta igualmente emblemática da nossa flora: Lavandula stoechas, e sobre a qual já escrevemos aqui. Mas, uma vez sabendo isto, não há que enganar e basta ter presente que o alecrim é "aquela cujo nome cientifico" é muito parecido com rosmaninho!

Em Portugal ocorre espontaneamente sobretudo no Sul e Centro, tendo uma preferência por solos calcários. Mas atenção, adapta-se sem grandes exigências a outros solos e hoje encontra-se por todo o país seja em jardins, bordaduras ou hortas. Muito pouco exigente de cuidados e de regas o alecrim é uma planta melífera, das preferidas pelas abelhas, e oferece com frequência duas florações no ano. Uma abundante pelo Inverno, o que é de considerar, e outra pelo início do Outono se as condições metereológicas o entusiasmarem.

Embora as sementes de que dispomos sejam provenientes de populações silvestres dos maciços calcários da Estremadura, e sejam portanto do alecrim que nós preferimos, temos de referenciar que existem hoje inúmeros variedades cultivares apuradas por jardineiros de toda a Europa ao longo de séculos. Variedades cujas flores vão do purpura intenso ao branco passando por vários tons de rosa. Existem igualmente variedades que se distinguem pelo hábito dos seus ramos: mais erectos ou mais rebeldes até ao alecrim-prostrado, de porte rasteiro, uma variedade igualmente muito popular em jardinagem.

Dito isto, terminamos com o sem-número de aplicações que esta planta tem  e que resultam dos componentes químicos dos seus óleos essenciais. Na cozinha, as suas folhas secas aromatizam um sem número de pratos, sobretudo de carne. Em casa, ramos de alecrim, frescos ou secos, ou em defumações, ajudam a perfumar o ar podendo ser considerado um eficaz desinfectante.

Referência por fim às (algumas) aplicações medicinais. Tradicionalmente as infusões de alecrim são tidas como estimulantes, servindo para acudir a sintomas de fadiga. Banhos de imersão que as incluam são igualmente relaxantes e reparadores. Um outro benefício que desde há muito lhe é atribuído é o de ser um poderoso estimulante da memória. Como refere a Fernanda Botelho no seu recente livro "Uma mão cheia de Plantas que curam", (aqui), os estudantes gregos "entrelaçavam rebentos de alecrim antes dos exames para reforçarem as suas capacidades mentais". Curiosamente esta aplicação, que desde sempre lhe foi dada,tem hoje papel passado e carimbado pelas recentes descobertas cientificas que comprovaram que o Alecrim possui de facto poderosos anti-oxidantes e combate preventivamente os sintomas de doenças degenerativas como a de alzheimer.

Nota final - A foto aqui publicada, e que é a que acompanha os nossos pacotes de sementes de alecrim, foi-nos gentilmente cedida pelo Paulo e a Maria, do blogue Dias com Árvores, que nele a publicaram pela primeira vez aqui em 2008. Obrigado!

quarta-feira, 6 de janeiro de 2016

Funcho em dia de Epifania



Assinala-se hoje o Dia de Reis, ou, se preferirmos utilizar a designação rigorosa da tradição cristã, o Dia da Epifania. O dia em que, 12 dias depois do seu nascimento, é anunciada a indiscutível natureza divina de Jesus, materializada na adoração que os três reis magos oriundos de Oriente lhe tinham vindo fazer. Epifania é isso mesmo: de acordo com a etimologia da palavra significa "simplesmente" "o grande acontecimento".

Na pratica este dia, cuja comemoração se faz hoje de forma muito ténue, sobretudo desde que entre nós deixou de fazer parte da lista de feriados católicos (em 1969), encerra formalmente as duas Festas da quadra: A do Natal e a da Epifania do Senhor. 

E como se encerram hoje as Festas,  nada melhor que aproveitar o dia para, não sem algum humor, voltar a publicar sobre algumas das plantas mais emblemáticas da nossa flora cujo interesse e significado também se foi perdendo  ao ponto de chegarem hoje quase ao esboço.

A abrir esta série de pequenos textos, que publicaremos durante os dias perfeitos de Janeiro, começamos por uma cujas qualidades fazem dela uma planta a ter sempre ao pé de tão essencial que é: O Funcho. Não pretenderá competir competir com os pergaminhos do incenso e da mirra, mas se tivesse sido oferecido não ficava nada mal na fotografia.

De forma muito resumida o funcho é simplesmente uma planta perfeita da qual tudo se aproveita e nada faz mal. Pertencendo à família das apiáceas, de que já escrevemos aqui, o foeniculum vulgare
faz parte das nossas memórias colectivas e do património etno-botânico de um sem número de localidades e populações. Só de terras que lhe tomaram o nome, os dedos das mãos não chegam, desde a conhecida cidade do Funchal até à funcheira, funchalinho ou funchosa.

A propria planta assume aliás diferentes designações, sendo também conhecida por fiolho, erva-doce, funcho-hortense, funcho-de-florença, entre outras, o que frequentemente é gerador de confusão.

A sua utilização quer como planta medicinal quer como planta comestível está amplamente descrita e integra já inúmeras publicações dedicadas à flora silvestre. Os ramos juvenis podem ser consumidos em sopas. Aromatizam também saladas e grelhados e as suas sementes adoçam as mais diversas doçarias. Medicinalmente o chá de funcho está indicado para aligeirar digestões, problemas respiratórios e ,se for o caso, ajudar na produção de leite materno. O sabor fortemente anizado das suas sementes, devido aos compostos quimicos que as constituem, metol e fenol, explicam igualmente que os seus extractos façam parte da maior parte dos rebuçados para a tosse.

Mas se os argumentos acima não fossem já suficientes para se querer ter sempre um funcho por perto, juntamos mais quatro: 1) germina com extrema e generosa facilidade numa semana; 2) é uma planta vivaz que cabe em qualquer vaso, canto do jardim ou da horta; 3) É muito pouco exigente de cuidados e requer pouca rega e 4) contribui para a biodiversidade do jardim ao ser uma das plantas preferidas dos insectos polinizadores.

Terminamos por fim fazendo referência à  relativa confusão que existe entre esta espécie e outras que ou lhe são familiares ou lhe tomam nomes próximos.

Existe efectivamente uma outra "erva-doce" que não é autóctone de Portugal mas sim dos países do Mediterrâneo Oriental e Médio Oriente e que ao longo dos séculos foi sendo disseminada em hortas e jardins. Trata-se do anis, ou pimpinella anisum. Planta que também pertence à família das apiáceas e cujo sabor forte e adocicado é inconfundível.

A confusão decorre da facilidade com que a expressão "erva-doce" é utilizada, pois existe igualmente uma variedade do Foeniculum vulgare  var. Dulce.

O funcho-florentino ou "erva-doce de cabeça" que produz um proeminente caule bolboso consumido como legume e que hoje já se encontra com facilidade em muitos supermercados pertence, tanto quanto conseguimos apurar, à espécies Foeniculum vulgare var Azoricum.

Já o  aneto, também conhecido por funcho-de-cheiro, sendo uma planta da mesma família das anteriores, igualmente aromática e com diversas utilizações culinárias, é de uma espécie diferente ( Anethum graveolens), e possui um ciclo de vida anual.

De notar ainda que o anis acima referido nada tem a ver com a especiaria anis-estrelado, hoje muito em voga, Illicium verum, uma especiaria cultivada no Sul da China e noutras regiões tropicais.

Em cima:  inflorescência de funcho (Foeniculum vulgare) e Inflorescência de anis (Pimpinella anisum); Em baixo:  Funcho-florentino (Foeniculum vulgare var Azoricum); Aneto (Anethum graveolens) e cápsulas/sementes de anis-estrelado (Illicium verum)