segunda-feira, 3 de abril de 2017

Sugestões de jardinagem II


Nem só de flores vistosas se faz uma Primavera, e nesta matéria a Natureza também nos dá vários exemplos de que é possível fazer as coisas com alguma discrição! E com efeito, são diversas as espécies de plantas cujas flores não correspondem ao standard expectável das "enormes pétalas e cores fulgurantes" que os garden-centers tanto nos ensinaram a gostar. Os carvalhos ou os castanheiros são um bom exemplo de floração "pouco convencional", mas há outras que exibem flores tão minúsculas e discretas que custa a acreditar que seja mesmo por ali que aquele ser-vivo se reproduz. 

O Sanguinho-das-sebes (Rhamnus alaternus, fotos da esquerda) e o Aderno-de-folhas-estreitas (Phillyrea angustifolia, fotos da direita) são duas dessas espécies e que colhem a nossa preferência, depois das Roselhas e das Pascoinhas do nosso último post.

Além de se encontrarem em floração desde o fim de Fevereiro, são duas espécies que poderíamos considerar como essenciais em qualquer jardim que se queira ecologicamente mais rico e sustentável. 

Além de muito pouco exigentes em matéria de água, uma vez que estão perfeitamente adaptados aos longos períodos sem chuva dos nossos Verões, são duas espécies arbustivas ideais para que um jardim tenha aqui e ali tão necessária e rara sobriedade que muitas vezes nos falha. Sempre verdes e de folhagem abundante durante todo o ano, ajudam em sebes ou pequenos aglomerados, a evitar o erro do excesso, que é e fazer um jardim só de flores.

Mas fazem mais, muito mais, de forma discreta e sem alardes! No início do Verão os Sanguinhos-das-sebes e, mais tarde, no fim de Setembro e Outono, os Adernos, frutificam abundantemente proporcionando alimento a morcegos e pequenos pássaros numa altura em que ele já escasseia e que em troca lhe agradecem dispersando as suas sementes!

E se isto já é muito, os sanguinhos-das-sebes fazem o pleno durante toda a Primavera, rindo-se baixinho de quem escarneceu das suas flores minúsculas: é que as larvas das Cleópatras, Gonepteryx cleopatra, de um verde-limão que tanto nos delicia o olhar, alimentam-se exclusivamente das suas folhas. E sem estas não seria simplesmente possível ter por perto esta espécies de borboleta, seguramente uma das mais bonitas que por cá habitam.

Dito isto,terminamos com o que é já evidente para todos o que chegaram até aqui: nada é por acaso e há um claro evidente propósito moral na Natureza quando apurou estas espécies. E mais não fosse, só por isso, já valeria a pena ter estas plantas por perto. Para nos lembrarem do que, despojado de vaidade, prescinde da exuberância das magnificas flores para mais tarde se transcender silenciosamente em delicadas e graciosas flores que voam!





Nota Final - Os aspectos que acima referimos são para nós os essenciais mas há muitos outros que vale a pena aprofundar. A começar pela sexualidade particular de ambas: Os Sanguinhos-das-sebes são uma espécie dioica e os Adernos-defolha-estreita uma espécie androdioica. o que é relativamente raro nos conjunto das plantas com flor (as angiospermicas, e que são a maioria das plantas que nos rodeiam). O tema é tão vasto e nós somos tão ignorantes na  matéria que nem nos atrevemos a entrar aqui no tema! Mas para quem quiser saber mais sobre estas duas espécies sugerimos vivamente  a leitura dos dois completos artigos que a Fernanda Nascimento escreveu há três anos no seu blogue Flores do Areal: AQUI AQUI!

Nota final II - Uma curiosidade: O nome vulgar da espécie Rhamnus alaternus, Sanguinho-das-sebes, deve-se ao sumo das suas bagas, de cor tinta, o qual durante séculos foi utilizado em tinturaria.

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